Por Ricardo Menacker
De alguma coisa a gente tem de morrer: do coração, susto ou atropelamento. De outra forma, desculpas, eu me nego a ir.
E foi. E fui. E foi hoje o dia de dar adeus a Neide. E fui procurar buracos, qual covas, para abrigar minhas tristezas no cemitério. E brigar comigo uns tantos porquês. Este momento de pendurar uma lápide e dar conforto a gente tenta protelar por muito chão, chão de milhares de milhas, sabe? Puro egoísmo para tomar cervejas em botecos de esquitas. E jogar conversa fora. Saudades das cervejas que nunca tomei … Boa hora para começar a tomar uns tragos, não? A gente tem de ser forte. E quando não é? Veste armadura? Dura caminhada …
Cada um que se esvai do sumo terrestre por derrota da doença que muitos evitam citar o nome, dá-me mais forças para ir adiante pelos que aqui ainda pisam e dobram a danada com gravata de braço forte. Faz sol, dia lindo para florir este rosto. A caminhada pede mais chão. Vou ruminar na praia os chinelos em algum percurso para devaneio, antes que um telegrama de desvanecimento bata à porta FULANO SE FOI VG 9H AREIA BRANCA. Mas a gente quer fulano que fique. Não vá. É tão cedo, Fulano. Tome mais um café, quero dizer, uma cerveja! Essa é a saideira, Fulano! E ficamos. E há sorriso, mas não temperança. Bebemos até perder o chão e trançar pernas.
É auto do infinito tecer lágrimas de saudades. É aliança de forças e formas da vida misturar no cadinho a couve da vida. Viver. Já a planta, a couve, é da família das crucíferas, Brassica oleracea, comestível, de folhas largas e grossas e flores brancas ou amarelas e tem entre suas variedades, além da própria couve, a couve-flor, Botrytis, o repolho, Capitata, e o brócolis, Italica. Todos com propriedades anticancerígenas. Anti. Não comeu o que pedi. Não deu ouvidos, cabeça-dura e teimosa Neide!
Anti-saudade. Tem comidinha pra saudade? Tempo! Vou havaianar na praia. No tempero das ondas minhas queixas afastar Iemanjá vai. A ordem justifica o momento. Auto do infinito no éter e balão. Sobe, estrastosfericamente sobe, sobe em He, coluna 8A, nobre, nobres sentimentos. Forte, dura, sensível, brava guerreira, honesta, trabalhadora, amiga, amiga … Saudades, Neide. Adeus, Neide.
Ricardo,
Iniciativa bárbara! Que força interior!
Boa noite, Luiz.
Mui grato. Mas o blog, sempre digo, é trabalho embrionário. Sempre há um tema para ser abordado. Quando observo as palavras citadas em mecanismos de buscas, na administração do blog, efetuo posts relacionados. Alguns temas, como sobrevida, prefiro não incluir. Não serei eu a colocar prazo de validade na vida de ninguém. Tem pouco mais de 3 meses. E anda sozinho. Claro, diariamente é alimentado, consome tempo e atenção. Cada qual que me procura, em comentário ou private, merece resposta. Algumas vezes são respostas diferentes. No comentário, algo mais abrangente. Em private conselhos, palavras de força, sempre Lua na Esperança!
Nem tanto quando você, passamos na pele as marcas do câncer. Forma figurada, ou não, é sempre um elo para respeito. E “bárbaro”, querido, é vencer a guerra. Parabéns.
Sou apenas um soldado entre tantas batalhas a cruzar.
Abraços,
Ricardo Menacker
Virgem em Câncer e Lua na Esperança!
http://www.virgemcancer.wordpress.com
Blog para neófitos em neoplasia maligna
Querido…
Entendo a dor de perder um amigo, um ente querido. E sinto por você.
É mesmo uma tarefa árdua superarmos as demandas de nosso ego, para que isto, este, aquilo ou aqueles, vivam à nossa maneira; ou como imaginamos que “viver” deve ou não ser.
Se ao menos puder sentir Neide como sente as estações do ano, o transitar do relógio, da harmonia Cósmica… imagino que seja mais fácil celebrar seu ritmo pessoal e deixar que assim seja.
Força amigo! E beba sim… Beba a alegria da vida e diga VIVA à transição, a maior e mais nobre das iniciações.
Bj…
“Como um pássaro cantando na chuva, deixe memórias agradáveis sobreviverem em tempos de tristeza.” (Robert Louis Stevenson)
Sergio Cesario, boa noite.
Abolir acentos é mais simples que abolir sentimentos. Diria em uma palavra: estupendo você foi! Entenda em mim o temor de reflexo de futuro. Então cabe não cruzar os braços, nem dobrar os joelhos. Pelas transições vivemos, afinal é um mundo de mudanças. E de estados. Do sólido ao gasoso, é sublimação. Então por este prisma, Neide ascendeu, sublimou-se, sublimação. Ao éter e agora etérea. E como briguei com vozes para a cabeça-dura mudar de médico e atendimento! Médico não é Deus, dizia e repetia, troque, dizia e repetia. Médico não é Deus, digo e repito.
E porque acredito num outro Deus, e acreditamos, me despeço com abraços e namastê!
Namastê, querido Sergio Ricardo Cesario.
Abraços,
Ricardo Menacker
Virgem em Câncer e Lua na Esperança!
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